Jessie Miranda

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Até nas flores encontra-se a diferença da sorte; umas enfeitam a vida, outras enfeitam a morte!

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

FOTOGRAFIA REVOLUCIONÁRIA


Nos dias atuais, ninguém lê mais de três linhas, mas escrevo.
Acho que essa foto já tem 2 anos. E ela representa uma revisita ao meu eu do passado. O eu de quem posava nos anos 2000 quase todos os finais de semana cheia de certezas, ousadia e verdades absolutas.

Cria de favela, eu iniciava uma carreira - ou tentativa de - como modelo e mais tarde como atriz. O contato com a arte, a partir dos meus 11 anos me salvou. Sem grana para bancar os valores absurdos de material fotográfico - valores absurdos para a minha realidade -, passei a buscar escolas de fotografia para posar para os alunos e de lá, conseguir montar um "book frankenstein" para ir à labuta e "me vender" p/ as agências. E isso eu consegui. Cheguei ao grande saguão dos castings nos anos 2000. Eu tinha castings toda semana. À época, o mercado publicitário estava começando a diversificar. Hoje eu entendo que muito mais por pressão do que por necessidade e justamente por ser por pressão, eu não encontrava espaço, pois não era nem branca nem preta. - Estereótipos comunicam em segundos no mercado publicitário. (Eu ouvia muito isso). Não me encaixava, pasmem, mesmo no perfil de ancestralidade indígena. Cabelos e olhos claros, você é exótica demais. E, embora este meu perfil me blindasse do preconceito (tenho total clareza disso), nesse meio eu era invisível e não conseguia destaque. Sempre estava entre as 3 editadas para as publicidades, mas a escolhida, nunca era eu. Uma frustração, é claro, mas quando eu via a campanha no ar e via que a atriz escolhida era preta, eu ficava feliz por ela e não reclamava. Afinal, quem era "fora do padrão" e tava fazendo o corre nessa época, sabe do que eu estou falando. Nós, nos ajudávamos o quanto podíamos @eudududeoliveira e @taty.godoi que ainda estão no mercado não me deixam mentir. Ali era o começo da diversidade por pressão e ainda falta tanto espaço, mas atribuo a vocês dois a um trabalho coletivo de abertura de caminhos. 🥰💖 E envio toda energia do bem ao caminho de vocês. Que merecem muito! 💖🙏🏽💛🌻
 E trago essa fala para os dias de hoje, pois nessa época eu só vivia isso, mas não tinha a menor compreensão da questão social envolvida aqui.
Meio que sem saber como, fui experimentando outras coisas dentro da Arte, esse lance da fotografia é bastante engraçado, pois ao passo que as publicidades não me aceitavam, as escolas de fotografia de São Paulo me queriam lá para os alunos. E conforme os cursos iam dando continuidade,  os alunos adoravam quando era eu que estava posando. Com alguma visão (além das poses) criava roteiro, cenários e íamos coletivamente construindo uma narrativa...
Assim, lá atrás eu conheci fotógrafos que estavam no corre e fazendo os nomes deles e me chamavam para fotografar: Ernesto Kobayashi, o Marcelão, Fernando Ducatti, e um pouco depois, os alunos de fotograria,  foram a um workshop e me levaram junto com eles, o workshop de iluminação continua do saudoso André Gardenberg, com quem passei a ter trocas incríveis sobre olhares pelo mundo... Nessa época, já meados de 2009, se você digitasse o meu nome no Google, as 9/10 primeiras páginas eram fotos minhas. Fui parar até em página de jornal na Turquia. rs Em uma matéria que citava o meu nome, falando sobre moda no Brasil e fotografia E ali, entre alunos e mestres da fotografia, entendi que sempre pertenci ao cenário alternativo. Muito tempo depois conheci outro talento que tive a honra de fotografar que é o Charles Naseh. 
Hoje, eu sei que um ensaio fotográfico,  para mim, é um ato de rebeldia frente ao não pertencimento de uma era que já passou e que agora, com as redes sociais como ferramenta, devemos ter consciência que quem cria as demandas do que será consumido nas redes sociais, somos nós. E aí me questiono: o que estamos dizendo aos algoritmos o que queremos por aqui (no universo paralelo da Internet)?

Agora, eu, pessoalmente, só tenho que agradecer à fotografia, mestres e alunos,  tudo o que eles me ajudaram a construir até aqui. Retratos são o entendimento d infinito particular de cada ser e suas camadas. Me expor tantas vezes, fez com que eu não ligasse de expor o meu lado mais vulnerável e transformá-lo em força. 

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