Jessie Miranda

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Até nas flores encontra-se a diferença da sorte; umas enfeitam a vida, outras enfeitam a morte!

terça-feira, 15 de agosto de 2017

Afago

Era manhã de um sábado.
Fazia sol, pelo horário o calor ainda era tímido. Despertei com um leve afago no rosto. Ao abrir meus olhos, a primeira visão do dia foi o seu sorriso. Sem qualquer palavra, no silêncio.
O meu despertador predileto se tornou o seu toque acompanhado do privilégio de te ter como primeira visão do dia, você assim, ali, presente, olhando para mim. Poderia fazer esses momentos durarem séculos. Por que a vida tem que ser tão corrida e menos contemplativa?
Você, já de banho tomado, perfumado, com seus materiais de aula separados, prepara o nosso café, enquanto me arrumo para acompanhar suas aulas matinais de música.
Já na cozinha, lhe dou um beijo de bom dia, nada demorado, só minha forma de retribuir a alegria de acordar da melhor forma que eu poderia. Tomamos nosso café falando sobre a noite que se seguira, se o sono foi de refazimento ou perturbador. E mesmo que tivesse algo de ruim, naquele momento, isso já não fazia diferença. Terminamos nosso café pegamos suas coisas e saímos.
Descemos os dois lances de escada ao caminho de seu carro, nossa bolha.
Ao entrar no carro e soltar meus cabelos para arrumá-lo, você manifesta um outro afago, emaranha-se entre os fios para sentir mais de perto perfume do shampoo e a textura dos fios. Neste momento, sinto-me gigante, algo dentro de mim parece expandir e se conectar com o universo. Eternizo assim este momento também.
Já na escola de música, chegamos com a sua aluna nos esperando. Sim, nos esperando porque ela pede que eu acompanhar a aula.
Dizemos que aquela menininha de óculos, tão amável e amada, louca por tocar guitarra, poderia ser nossa filha, ou a inspiração no caso de unirmos nossos sangues. Entre uma nota entoada e outra, trocamos alguns olhares entendendo o significado que tivera.
Após o almoço, vamos para nosso canto secreto, nossas horas de deitar no peito um do outro, nos acolhermos no silêncio onde só ouvimos nossos corações pulsarem compassados. Lá, o beijo é longo, o toque é quase um transe, ali, somos dois. Conectados.

Adormeço nos seus braços ouvindo sua respiração, viro para o lado com o pé colado no seu.

Acordo, ouço o celular, despertando o meu sono.
O teto é branco, o quarto é sombra.
E eu sou só.
Levanto, eu e as lembranças daquele sonho de vida que me despertara eternamente para o real sonho de vida.

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