Jessie Miranda

Minha foto
Até nas flores encontra-se a diferença da sorte; umas enfeitam a vida, outras enfeitam a morte!

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Monologo de João Palhaço

Já faziam 15 dias, que o Pavilhão Maravilha trabalhava no Serrado!
O povo com ansiedade, para ver tanta novidade atopetava o tabuado,
tinha gente dos Pinheiros, da Fazenda dos Barreiro, lá do alto do brotão do circo.
Pobre, pequeno e chamava tanta atenção, no trapézio tinha um moço rodava que nem pião, tinha um mico corriqueiro dava dez saltos no chão.
Tinha uma moça bonita, chamava Chiquita, e cantava com um violão.
Era tanta novidade, que o povo com voracidade, com as palmas tampava o espaço, e só se esvaziava com as gargalhadas de João Palhaço.
João Palhaço era levado, feioso, desengonçado, espirituoso nas piadas. Caía no chão sorridente, mostrando os tocos de dente, naquela boca chupada, seus cabelos quase brancos, a gente enxergava aos trancos a sua idade avançada.
Trabalhava com Chiquita, a moreninha bonita, sua esperança na vida e o que mais adorava, e todo o esforço que empregava por sua filha querida.
O dono da companhia, o velho seu Zacarias, era louco por Chiquita, por isso vivia amando, para moça se declarando só com palavras bonitas.
João Palhaço fraquejava, caboclo muito viajado começou a compreender, chamou sua filha querida: "Vamos deixar esta vida?" E deu toda a explicação.
Chiquita dando risada: "Meu pai, não vai acontecer nada, para o velho seu Zacarias, não dou atenção!
João Palhaço se condenava culpado pelo vício da mocinha, quantas vezes chorava, quando sua cara pintava no canto da barraquinha.
Era sábado de Aleluia, noite de muita buía, o circo estava lotado, grito para todos os lados, que nem berreiro de gado, "aperfurava" o espaço, e de toda boca se ouvia numa só voz que se repetia: "Venha logo João Palhaço!"
na Barraca de Chiquita alguma coisa esquisita, acabava de acontecer, o danado Zacarias, criminoso, sangue-frio, e picado de paixão, estrangulou a sua amada, com a fúria desesperada das onças lá do sertão. O povo inconsciente já reclamando impaciente, o princípio da função, a música toca um dobrado, que nem dobre de finado, tão triste de escutar.
Nisto entra João Palhaço com sua filha nos braços acabando de suspirar. E dentro do picadeiro olhando para o circo inteiro começou a gargalhar.
- RA RA RA!
Ri platéia, ri. Faça agora como eu faço, ri platéia ri, da desgraça de um palhaço!
Foi soltando o corpo frio de sua querida filha na dura terra do chão, ele rindo feito louco cravando pouco a pouco uma faca no coração. Caiu junto de Chiquita beijando sua face bonita, depois estremeceu.
Foi desgraçada sua sorte, mas foi sorrindo da morte, que João Palhaço morreu!

Nenhum comentário: