Jessie Miranda

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Até nas flores encontra-se a diferença da sorte; umas enfeitam a vida, outras enfeitam a morte!

sábado, 7 de março de 2015

Nos sonhos

E aí, no sonho, em meio a uma tumultuada noite de fuga, dessas todas aventuras sem sentido que vivi, durante alguns anos, que busquei por ter deixado parte da minha identidade em alguém. Em meio a noite em que a brisa mal circulava, o asfalto molhado pela chuva, que havia acabado de acontecer.
  Fugia. Das motos, dos carros que, secretamente, eu havia batizado de corvos, ou covil mesmo (no pior dos sentidos). Houveram destes, alguma sinceridade e interesse puro, mas, no dia da fuga, nenhum destes estavam por lá.
  Em meio ao medo, angustia, agonia e uma respiração ofegante que parecia nunca cessar, livre, mas presa, em becos escuros, um matagal sem sentido que não findava no olhar, em meio a tudo isso, escolho entrar em um desses caminhos, mesmo sem saber onde ia dar.

De lá, bem ao fundo ouço vozes, gritos e risadas altas, mas distante, de olhos fechados e cabeça baixa, respiro fundo e dou o primeiro passo que me encoraja a continuar. Sou barrada com um acidental choque corporal. Toninho (desencarnado). E eu, no sonho, consciente disso. Ele me diz:

- Ô, menina, é você? Olha, não segue por aí, não. Você não vai gostar do que vai ver. (Caminhando com pressa) Vem por aqui, sei de alguém que vai gostar de te ver. Como está o Nathan?

Atônita, seguindo ao lado dele seus passos apressados, respondo:

-  Está bem, Seu Toninho. (pausa) Está um moço lindo, seu neto. Precisa ver...

- Que bom, menina! No fundo eu sei. No fundo eu sabia. Vamos seguir por ali (aponta).

- Ah! Tenho uma foto dele na carteir... Toninho?! Seu Toninho?!

Como todo bom sonho maluco, desses que as pessoas somem do nada, Seu Toninho sumiu. Que esteja em um bom lugar. Sigo no destino que ele indica. Dali, a noite começa parecer despedir-se, noto aquele profundo azul, quase negro, graduar seus tons, lentamente. Olho ao redor, aquele lugar onde fui deixada, parecia um átrio a céu aberto. Sem todas aqueles sentimentos típicos de perseguição, mas triste por seguir sozinha, sem saber para onde nem para quê, uso o mesmo ritual de encorajamento para escolher o caminho e, antes de completar o primeiro passo, alguém repousa a mão no meu ombro esquerdo, uma mão firme, de dedos longos e largos, uma mão que, apesar da lida com o trabalho pesado, era a mão mais macia que já conheci. E aquele perfume... Ah aquele cheiro, eu, amo sonhos que trazem até odores como composição, são sempre os mais reais, trazem até sensações físicas. E aquele cheiro...único. Inconfundível!

- Pai?!

Como na dança, giro no eixo para o lado da mão que me procurou. Sou acolhida num abraço. Longo, saudoso, eu numa sensação de alívio, ele, de paz. Recebo um beijo na testa, pude sentir - como sempre- até os fios do seu bigode. O laço se desfaz do abraço, e repousa nas mãos. Entrelaçamos as mãos, minha esquecida em sua mão direita, e tudo tão real. Seguimos durante muito tempo assim, unidos, mas calados. Curtindo aquela saudade que, parece que mesmo com a presença, não cessa.
Falar contigo sobre os nossos te contar como estão todos, perceber que está bem, saudável e com semblante de paz, receber mais um abraço de despedida, sem saber que era de despedida. E acordar com o despertador, é como todas as vezes em que precisou me acordar.

- Acorda filhota, está na hora.

Obrigada, por me acordar, por vir me visitar. Obrigada.
Beijos.

quarta-feira, 4 de março de 2015

Aos que querem ser atores





À vocês que querem ser atores, o meu relato, meu depoimento, sem modéstia, acho que vale à pena ler.

A vocês que querem ser "artistas", atores, para ir para a TV globo e ter alguém passando o pincel de retoque em sua maquiagem, para aparecer na TV para suprir o próprio ego, para pai e mãe ver, pela popularidade, pela melhor aceitação perante a sociedade e, pelos motivos mais perigosos, pela fama, e pelo dinheiro "fácil".

Aqui segue minha dica e o meu relato:

Pós formação, entre para uma cia de teatro, entre em cartaz em seu próprio espaço cênico (teatro) ou alugue um, fique no mínimo três meses em cartaz, com seu pagamento sendo apenas bilheteria.

Ensaios. Vá todos os dias ensaiar durante os 4 ou 5 meses, sem receber por isso, todos os dias indo trabalhar por sua conta. Confeccione seu próprio figurino, COMPRE TUDO QUE PRECISAR COMPRAR, sendo, ou não caro.Voltando ao tema "temporada", convide todos aqueles 1000 e poucos "amigos números" de suas redes sociais e, espere receber uns 20 desses em todo o período de temporada, ouça as desculpas mil. Perceba que, após o fim da temporada, os "lucros" não vão pagar nem uma semana daqueles tempos de ensaio.
Se isso não te corroer a alma, se você achar, ainda assim, uma experiência incrível e ainda quiser virar ator; seja bem-vindo.

Vire, dentro deste grupo, quem escreve e envia o projeto para vender, o figurinista, o cenógrafo, o maquiador, para saber o valor de tudo isso, claro, sem menosprezar tais profissões e/ou funções, mas pense assim porque faz parte do processo, porque faz parto do todo. Ser parte de tudo aquilo.

Vire seu próprio montador, carregador, iluminador.
Se na falta de material para compor um personagem, você pinta seu próprio pé com tinta spray, fica com o pé de molho no tíner, removedor e/ou derivados e, ainda achar graça e apesar do ardor na pele ter valido a pena, pois a composição ficou fantástica; seja bem-vindo.

Se você precisa pintar o corpo todo, tomar banho coletivo para tirar a maquiagem corporal, notar que a espuma sai colorida durante uns três dias, e isso não fazer nenhuma diferença; seja bem-vindo.

E, se apesar da carga (literal, ou não) ainda sentir prazer em tudo isso; seja muito bem-vindo!

Rale, se esfole, supere limites sejam eles físicos ou mentais.
Estude, estude muito. Pesquise todas todas as teorias observe a vida como repertório e composição cênica, como toda a arte

Se depois de tantas adversidades, tantos "sacrifícios", depois de um espetáculo você prazer, se sentir realizado por exercer seu papel; seja muito bem-vindo.

Sentar no palco depois que o público vai embora é ainda sentí-los ali; seja bem-vindo.

Se tudo isso fizer tanto sentido quanto subir no palco, seja bem-vindo.

    Por conta do curso livre que fiz na adolescência, eu já fazia uma ideia de tudo isso, mas o falso glamour da profissão ainda me encantava, durante a formação, eu fui literalmente me formando, e me encantando com a tensão das adversidades, a tensão que existe durante o tempo de montagem e, todos os contratempos magníficos que aparecem pelo caminho.
Apesar de ter formação, ainda tenho muito a aprender com tantos nessa escola incessante tanto quanto a fome por me tornar uma profissional melhor, mas sem deixar que o peso dessa palavra me torne insensível.
   Por tudo isso, eu sou apaixonada e tenho certeza que quando falo de tudo isso, meus olhos brilham, pois minha alma acende no mesmo instante que ascende e torna-se tão grande e iluminada quanto o sol.

Se todos esses sintomas persistirem; não procure um médico, não, mas seja muito bem-vindo.
Essas últimas semanas foram bem corridas, cansativas, mas na mesma proporção que foi prazerosa e, é SÓ isso que é VERDADEIRAMENTE VALIOSO para mim.
Por: Jéssica Miranda